domingo, 29 de outubro de 2017

O ESTRANHO DA RUA 13,

O ESTRANHO DA RUA 13

Athayde Martins.


Minha ex me envia mensagem que tenho dez dias pra pagar pensão alimentícia, e pelo teor do texto noto que ela está bem furiosa. Pior de tudo é o novo namorado dela que é do tipo valentão, um verdadeiro cowboy do asfalto. Com os dois no meu pé e mais minha filha caçula que descobriu gravidez com apenas quinze anos de idade, posso afirmar sem medo de errar que problemas para mim é o que não falta.
                          E por falar nisso, vamos prosseguir nosso dia de trabalho com a segunda visita. Com o coração pulando no peito e a cabeça a mil, sigo procurando a pessoa que terá o desprazer de estar cara a cara comigo. Depois de muito rodar me deparo com um belo sobrado na rua 13 em um bairro classe média. Na verdade, uma viela sem saída, bem ao lado de uma casa sinistra toda pintada de vermelho, o que me chama atenção. Sinto um calafrio percorrer minha espinha dorsal.
                            Toco o interfone, me identifico e em segundos ouço barulho de portas se abrindo e em seguida passos ágeis que se aproximam. Uma mulher elegantemente vestida e uma menina , mais ou menos sete anos a acompanhando. Percebe-se que são bem apegadas, pela maneira carinhosa que se comunicam. Chega a parte mais difícil do meu trabalho:
                             -Aqui é a residência do senhor Aníbal P. de Medeiros?
                             -Sim, em que posso ajudá-lo?
                             -Sou oficial de justiça e tenho ordens judiciais para retirar um televisor e um aparelho de som.
                            A mulher se mostra surpresa:
                            -Como assim? Meu marido não me disse nada.Aguarde um momento por favor.
                            Bate o portão na minha cara e ouço gritos vindos do interior da casa, ela fala,ou melhor grita ao telefone:
                            -Aníbal, seu fdp, você andou jogando de novo?
Meu celular vibra, é Magali, minha namorada me avisando que depois de oito anos de namoro seus pais estarão na minha casa no final de semana para tratarmos do nosso casamento.
                               -Casamento? Mas quem falou em casamento!
Mensagem nova da minha ex:
-Eu e Rick estaremos a noitinha em sua casa, nos aguarde.
Rick, é o valentão, namorado dela!
                             A mulher do Aníbal retorna, agora com a filha aos prantos no colo:
                             -Mamãe , não deixe o homem mau levar minha TV, onde vou assistir aos meus desenhos?
Aquele choro sofrido me atinge profundamente a alma!

OBS: Segue no próximo episódio.

ANTONIO MARCOS!


sábado, 28 de outubro de 2017

O DESABAFO DO BENITO DI PAULA!


O ESTRANHO DA RUA 13.

O ESTRANHO DA RUA 13

Athayde Martins


                                Eu me chamo Paulo Cezar , mas pode me chamar de PC, é assim que sou conhecido pelos amigos e colegas de trabalho. por  uma dessas ironias do destino tenho como profissão a difícil tarefa diária de levar más notícias. É isso que faz o oficial de justiça,essa é a minha missão,diga-se de passagem nada agradável.
                                Evidentemente o meu cotidiano é recheado de ofensas e descontentamento, afinal, sou o que se pode chamar de visita indesejável e com minha  velha moto vou ganhando meu pão de cada dia de maneira honesta e nem sempre agradável.
                                Na minha cidade, como em várias outras do país, alguns bairros são por assim dizer, bem sinistros. Mas como o salário é bem razoável, não dá pra escolher e assim vou seguindo meu destino, cumprindo minhas visitas, previamente designadas pelo meu chefe, o Doutor Messias Dourado Matos de Albuquerque e Silva, cujo humor é de assustar até o mais otimista e sorridente dos profissionais de área.
                                No meu trabalho, convivo  diariamente com a Verinha, moça bonita que se desdobra pra pagar sua faculdade de direito, solícita sempre e  muita simpática o que dá um toque muito especial em nossas manhãs, principalmente. Tem o Juvenal, garotão ainda, uma espécie de faz-tudo na repartição, não rejeita serviço e nem faz corpo mole , parafraseando aquele famoso apresentador de TV, ele se vira nos trinta, mas dá conta do recado.
                                 Nossa equipe conta com Dona Matilde, a famosa mulher do cafezinho. Nossa alegria é ouvi-la ,principalmente nas segundas, contar suas aventuras e paqueras nas baladas de fim de fim de semana, invariavelmente do bailão de  forró. Ela nos conta suas aventuras e desventuras que ocorrem no rodopiar dos salões. Algumas outras figuras se destacam, como por exemplo o Sérgio, uma espécie de galã que não se inibe ao contar suas conquistas, ela se acha irresistível, faria inveja ao próprio Narciso.
                                  Mas na verdade é nas ruas que o bicho pega e o couro come. Saio para cumprir ordem  de despejo em  um bairro periférico, miseravelmente pobre com ruelas esburacadas e sem nenhuma estrutura dígna. Um desses descasos das autoridades municipais que autorizam aventureiros a vender terrenos para  pessoas honestas e trabalhadoras, que na ânsia para fugir do aluguel acabam caindo nessa tipo de cilada. Geralmente são cidadãos maus informados que na pressão doentia da sociedade, são obrigados a viverem de forma subumana e são vítimas de um sistema  cruel onde quem pode mais chora menos e prevalece a lei do mais forte, ou seja, aquele que possui certo poder aquisitivo que permite aquisição desses lotes onde constroem pequenas casas para alugar. Nesse caso, específico, o inquilino atrasou o aluguel e depois de muitas tentativas as negociações acabaram na justiça e aí entra  minha parte triste na história.
                                Paro minha moto diante do pequeno portão improvisado, de restos de madeira, hesito por alguns segundos e bato palmas. Uma senhora de certa idade, com vestido estampado e um lenço vermelho na cabeça . caminhando com dificuldades e lentamente vem me atender.Noto um ar de tristeza e preocupação no olhar dela:
                                Vai direto ao assunto:
-Se o senhor é vendedor, vai perder o seu tempo....
Não a deixo concluir a frase:
_Dona Maria Aparecida da Silva?
-Sim e o senhor quem é?
Clima tenso:
-Sou o PC, oficial de Justiça e tenho mandado de despejo. A senhora tem 24 horas para desocupar a casa.
                         A mulher chorando copiosamente senta-se numa velha cadeira e esconde o rosto entre as mãos. Quatro crianças saem da minúscula residencia e um deles, o mais velho, uns quinze anos, no máximo pergunta:
-O que houve vó, porque a  senhora está chorando?
                           Meu coração dispara, mil imagens povoam minha mente e por segundos perco a noção de tempo e espaço. Me recomponho e peço pra que ela assine a intimação. Com  as mãos trêmulas e lagrimas nos olhos ela mal consegue assinar. Guardo o documento na mochila e antes de ligar a moto olho aquela senhora e por instantes  me sinto terrivelmente desumano.
                             A vida continua, tenho outras visitas agendadas para hoje e meu dia está apenas começando.

Obs; Aguardem o próximo episódio.

Billy Paul