Eterno Amor
Eterno Amor
Athayde Martins
Athayde Martins
Mona Lisa, carinhosamente
chamada de Mona pelos parentes e amigos, não resistiu a rosa vermelha, o jeito
meigo, doce e quase ingênuo de Fabrício e naquela tarde chuvosa de 08 de Março
de 1940 um grande amor nascia entre ambos, uma flor selando o amor.
Aquele romance marcou
profundamente a vida dos dois, eles eram inseparáveis, a corda e a caçamba. Um
completava o outro e vice-versa. Mona Lisa, filha de família nobre na cidade e
Fabrício, apesar de inteligente era filho único do mecânico Fábio e da
doméstica Alice. O casal de acordo com os valores morais da época tinha
absolutamente tudo para não dar certo.
Com o passar dos anos aquele
amor aumentava de tal maneira que às vezes chegava a sufocar e os corações
daqueles jovens batiam forte, apesar da força da paixão, algo extremamente
maligno se colocava como uma barreira intransponível entre os dois. Ricardo,
moço bonito, culto e de linhagem nobre nutria por Mona Lisa um amor violento e
quase doentio.
Aquele triângulo se
transformou em bomba relógio e a guerra de Ricardo para conquistar seu
impossível amor estava declarada. A repulsa que Mona Lisa sentia por Ricardo
era tão forte quanto o amor que nutria por Fabrício. Os pais da moça, ricos e
respeitados criadores de gado faziam de tudo para que a filha se casasse com o
filho de um dos maiores produtores de café daquele estado. Nos anos que
antecediam a segunda grande guerra o café já era considerado um dos produtos
mais valiosos do Brasil, assim como a agropecuária era tida como lucro certo
para os reis do gado.
O doutor Fabrício era tido
como uma espécie de santo pela população mais pobre da sociedade e isso
despertava um ódio mortal no coração de Ricardo, que lutava com todas as armas
para conquistar o coração de Mona.
A moça de sorriso encantador
aos poucos perdia o brilho e seus olhos tristes estampavam total desencanto
pela vida. Como clínico geral, doutor Fabrício, além do plantão do hospital e
no seu consultório, ainda continuava arrumando tempo para visitar seus
pacientes menos favorecidos pela sorte.
O médico mergulhou na
solidão e praticamente se casou com a sua profissão. Estudioso e dedicado, ele,
com 34 anos já era um dos mais respeitados do país. Mona com 29 formada em
filosofia se limitava a lecionar na faculdade local. Eduardo com 31 anos gerenciava
um dos bancos de sua família. Os três jovens, infelizes, cada um por seu
motivo, aos trancos e barrancos tocavam suas vidas. Mas na teia da existência o
destino envolve as pessoas como num tabuleiro de xadrez e quando menos se
espera...
XEQUE MATE.
XEQUE MATE.
A saúde de Mona era frágil e
com o passar dos anos uma misteriosa doença sugava suas energias. Faltavam
apenas dois meses para o casamento de Ricardo e Mona Lisa. A sociedade
movimentava-se com fofocas em torno de um enlace puramente comercial.
Aquela situação era como uma
sentença de morte e apesar de saber que não era amado, Ricardo apressava os
preparativos para a festa que com certeza seria uma das mais badaladas dos
últimos anos. O tempo passava sem piedade! A saúde de Mona piorava. Numa das
visitas a uma das muitas pacientes pobres o doutor Fabrício teve uma surpresa.
Enquanto ela humildemente lhe preparava um café ouvindo um rádio sobre o
armário da cozinha transmitiu a seguinte notícia: “Jovem filha do famoso
produtor de café foi encontrada morta em seu quarto. O fato pegou a todos de
surpresa, ela se casaria em 15 dias.”
Os olhos marejados de Doutor
Fabrício chamaram a atenção da paciente:
- O senhor conhecia a moça doutor?
- O senhor conhecia a moça doutor?
Ele demorou um pouco para
responder:
- Sim!
Mais uma longa pausa seguida
de um suspiro:
- Eu a conhecia.
Agradeceu o café pegou sua
maleta e com o coração partido entrou no seu carro e sumiu no meio da chuva.
Cinquenta anos se passaram
Fabrício agora com 84 anos vivia das lembranças daquele imenso amor, o sorriso
de Mona ainda iluminava sua caminhada rumo ao horizonte sem fim. Todos os anos ele visitava o
túmulo de sua amada e deixava sempre uma rosa vermelha no local.
“Fabrício, nunca deixarei de
te amar”
A data era bem visível: 08 de
Março de 1940.
Diz a lenda que em noites de
céu estrelado e lua cheia um casal sorridente corre alegremente pelas alamedas
do cemitério.
FIM.
4 Comentários:
Parabéns Mestre, adorei, super instigante.
Este comentário foi removido pelo autor.
Que coisa mais linda, pai!!! Arrepiei com o final <3 Parabéns!!
Puxa, é triste, mas nem por isso menos belo. Parabéns por sua criatividade e sensibilidade, amigo escritor. Quantos amores sucumbiram à ambição? Ao preconceito social? Uma reflexão...
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial