sábado, 27 de julho de 2013

COTIDIANO


Põe-se a mesa a cada refeição. A  cada refeição tira-se a mesa. Lava-se o corpo, lavam-se os cabelos. A roupa também se lava. A escova esfrega a parte renitente.No gesto de espantar o pó se espanta, e logo volta a pousar-se no móvel. O corpo dorme e amarrota o lençol. Andar arranha o chão.

               De casa a condução, sempre o mesmo caminho. E nem se altera o percurso do ônibus. De casa até o serviço. Do serviço até em casa.

                Mesa, madeira, lápis, posse do meu emprego, minhas obrigações, minha tarefa. De mim ao chefe, idêntica distância. Giro sobre mim mesmo no eixo dos rodízios, abro e fecho gavetas, guardo notas. Papéis, leitura, vistos, longo dever cumprido.

               Desço da cama e ando. Descalço, o meu pé fica sujo. Lavo o pé, calço o sapato e ando.Vou até ali e volto. Vou até a esquina e volto. Vou até a cidade e volto. Vou e volto. Você já chegou? O prato na mesa, o talher do lado do outro, o copo na frente Depois a sobremesa. Por último o café.

               Seco a água do pote, seco a água da planta. Rego de manhã, rego a noite, e a terra bebe tudo. É preciso arrancar as daninhas. Mas sempre fica uma ponta de raiz. Na parede branca, a marca da mão. Na mesa branca, a marca do copo. Na beira do copo a marca de batom. Enxugo as lagrimas ao perceber que você se foi e nada mais faz sentido. Vou e volto sempre... só você não voltou!

Baseado no texto de Marina Colassanti..

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